terça-feira, 22 de novembro de 2016

O Tempo na volta pra casa

Esta carta foi escrito na volta do trabalho,  o transito era intenso e muito lento na entrada da ponte 25 de Abril que fazia  a ligação entre Lisboa e Almada, com um caderno de rascunho e uma caneta na mão fui riscando essas palavras e no final de semana foram parar na quarta pagina da revista Domingo Magazine, a carta premiada saiu na edição de nº 9570 do Correio da Manhã, no domingo dia 07 de Agosto de 2005. As vezes paro e penso no quanto podemos aproveitar nosso tempo, na ida e na volta do trabalho, nos domingos de manhã quando levamos as crianças no parque para brincar, 15 ou 20 minutos antes de dormir enquanto esperamos o sono chegar, ler e escrever são atividades excelentes nestas situações.

O tempo na volta pra casa



Sentado num autocarro, cansado depois de mais um dia de trabalho, descanso o meu corpo no lento regresso a casa, enquanto espreito a vida lá fora por detrás de um vidro riscado. No pensamento estão as recordações de uma infância alegre e de uma juventude rica de grandes momentos. Mas aos poucos vou sendo resgatado para o presente e sem forças para manter viva a esperança de reencontrar o meu velho mundo me confronto novamente com a realidade a minha volta. Do lado de fora o transito é intenso, cada ano que passa a mais pessoas e menos empregos, mais violência e menos segurança nas ruas, mais professores e menos interesse em manter os jovens na escola, a educação vai se transformando em luxo, pois a necessidade tem vencido a vontade de estudar, o pequeno agricultor perde o trabalho e também a companhia dos filhos que deixam a pacata vida do interior em busca do sonho de uma vida melhor na grande capital. Um país não é apenas um pedaço de terra, um país e a alma e o coração de cada pessoa que nele vive, que nele trabalha e que por ele luta. Uma pessoa pode parecer não ter nenhuma importância para a sociedade por ter um trabalho simples e uma educação vulgar, mas quando paro e penso vejo que são essas pessoas, o sangue que corre nas veias deste país, o mantendo vivo mesmo nos momentos mais difíceis...


Ricardo Ferreira Barbosa (Lisboa)



Caro Ricardo,
Pela sua carta, pela sua verdade, o prêmio desta semana é seu.
Fernanda Cachão (Redatora)

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