Esta carta foi escreta numa semana de muitas recordações e publicada no domingo do dia 16 de outubro de 2005, na época grande parte dos meus amigos e companheiros de trabalho fumavam, e todos eram leitores assíduos do jornal, principalmente aos domingos, quando estavam de folga e passavam mais tempo com a família e nas manhãs sempre iam para os bares e cafés para ler e falar da semana. Três deles deixaram de fumar depois de lerem esse carta, pensaram nos filhos e nas esposas e por último em si mesmos e na dor que esse habito poderia trazer à família.
Somos egoístas e esta na nossa natureza, pensamos unicamente em nos, apesar de declararmos em alto e bom som que somos pessoas amorosas e respeitosas, mas na verdade todo esse amor e respeito que declaramos aos outros não passa de amor próprio, porque o que demonstramos durante nossa vida e que pouco importa o mal que nossas escolhas possam trazer aos outros, e desta forma é com todo e qualquer vicio, seja ele em bebidas, em jogos e por incrível que parece até no trabalho.
Hoje estamos enfrentando todos esses males e ainda por cima o problema de não termos o controle de nossas vontades, todos somos controlados aos nossos próprios olhares e entendimentos, mas no fundo nos tornamos cada vez mais dependentes do que deveria nos auxiliar nas tarefas e na organização de nossas vidas, um grande exemplo que temos são os celulares, não o deixamos por nada, certa vez ouvi um rapaz dizendo que compraria um celular a prova de água para poder não se separar do aparelho na hora do banho, pois o mesmo já esta na hora das refeições, no trabalho, na escola e ate mesmo antes de dormir, caso o sono não chegue logo e de fato não irá chegar o usamos atá e exaustão e quando acordamos a primeira coisa que fazemos e colocar a mão no aparelho e recomeçar o dia da mesma maneira de sempre, abrir os olhos não e focar nas atitudes alheias e apontar os erros dos outros, abrir os olhos e voltarmos a nossa atenção para o que somos e o que estamos fazendo das nossas vidas, é hora de todos nos abrirmos os olhos.
O companheiro que mata
Eu
tinha apenas nove anos de idade no dia da morte do meu avô. Até então eu não conhecia
a morte como o fim da existência humana e na minha maneira de pensar tudo na
vida passava e realmente passou, passaram dias, meses e anos para que eu me
conformasse com a morte dele.
Naquele
triste dia, todos estavam presentes no funeral, meus familiares, amigos e até
desconhecidos vieram de todas as partes para tomar conhecimento da causa de uma
morte tão inesperada. Naquela madrugada o silêncio foi soberano, no meio de
toda aquela multidão, e quando alguém exprimia o pensamento, fazia-o em
murmúrios, lamentando a morte daquele que trazia no olhar uma enorme vontade de
viver.
Mais
tarde compreendi que o seu maior inimigo na vida também havia sido o seu maior
companheiro, entre um café e outro ele estava presente, num diálogo entre
amigos, num fim de noite e mesmo na sua solidão a pensar nas coisas mais
simples da vida, o seu companheiro permanecia sempre presente, eram
inseparáveis.
Até
que com o passar dos anos, o cultivo desta árvore deu seus frutos, um câncer nos
pulmões estava a roubar-lhe as forças, a virilidade e todo o seu tempo, não
fazia mais nada do que estar sentado, pois ate a mais simples atividade já lhe
reduzia a quase nada, foi assim ate ouvir de um médico que o seu maior
companheiro o estava a matar pouco a pouco e que já não lhe restava mais do que
algumas semanas de vida.
Passadas
essas semanas, o meu avô encontrava-se estirado em uma cama, coma cabeça
apoiada nos braços de minha mãe e com os olhos cheios de lagrimas a despedir-se
da família da maneira que lhe era possível, ao levantar a mão e acenar com os
dedos um discreto e frágil adeus, sem pronunciar uma única palavra, tendo um
fim lento e doloroso.
E
o companheiro de sempre que lhe tirou a vida antes do tempo ainda esta entre
nós e cada vez mais presente na vida de milhões de pessoas. O Cigarro é assim,
muito bom, até sentirmos no corpo o grande mal que nos causa e principalmente
às pessoas que mais amamos.
Carta Premiada, Ricardo Ferreira Barbosa, Lisboa.
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