sábado, 26 de novembro de 2016

O companheiro que mata

Esta carta foi escreta numa semana de muitas recordações e publicada no domingo do dia 16 de outubro de 2005, na época grande parte dos meus amigos e companheiros de trabalho fumavam, e todos eram leitores assíduos do jornal, principalmente aos domingos, quando estavam de folga e passavam mais tempo com a família e nas manhãs sempre iam para os bares e cafés para ler e falar da semana. Três deles deixaram de fumar depois de lerem esse carta, pensaram nos filhos e nas esposas e por último em si mesmos e na dor que esse habito poderia trazer à família.
Somos egoístas e esta na nossa natureza, pensamos unicamente em nos, apesar de declararmos em alto e bom som que somos pessoas amorosas e respeitosas, mas na verdade todo esse amor e respeito que declaramos aos outros não passa de amor próprio, porque o que demonstramos durante nossa vida e que pouco importa o mal que nossas escolhas possam trazer aos outros, e desta forma é com todo e qualquer vicio, seja ele em bebidas, em jogos e por incrível que parece até no trabalho.
Hoje estamos enfrentando todos esses males e ainda por cima o problema de não termos o controle de nossas vontades, todos somos controlados aos nossos próprios olhares e entendimentos, mas no fundo nos tornamos cada vez mais dependentes do que deveria nos auxiliar nas tarefas e na organização de nossas vidas, um grande exemplo que temos são os celulares, não o deixamos por nada, certa vez ouvi um rapaz dizendo que compraria um celular a prova de água para poder não se separar do aparelho na hora do banho, pois o mesmo já esta na hora das refeições, no trabalho, na escola e ate mesmo antes de dormir, caso o sono não chegue logo e de fato não irá chegar o usamos atá e exaustão e quando acordamos a primeira coisa que fazemos e colocar a mão no aparelho e recomeçar o dia da mesma maneira de sempre, abrir os olhos não e focar nas atitudes alheias e apontar os erros dos outros, abrir os olhos e voltarmos a nossa atenção para o que somos e o que estamos fazendo das nossas vidas, é hora de todos nos abrirmos os olhos.


O companheiro que mata



Eu tinha apenas nove anos de idade no dia da morte do meu avô. Até então eu não conhecia a morte como o fim da existência humana e na minha maneira de pensar tudo na vida passava e realmente passou, passaram dias, meses e anos para que eu me conformasse com a morte dele.
Naquele triste dia, todos estavam presentes no funeral, meus familiares, amigos e até desconhecidos vieram de todas as partes para tomar conhecimento da causa de uma morte tão inesperada. Naquela madrugada o silêncio foi soberano, no meio de toda aquela multidão, e quando alguém exprimia o pensamento, fazia-o em murmúrios, lamentando a morte daquele que trazia no olhar uma enorme vontade de viver.
Mais tarde compreendi que o seu maior inimigo na vida também havia sido o seu maior companheiro, entre um café e outro ele estava presente, num diálogo entre amigos, num fim de noite e mesmo na sua solidão a pensar nas coisas mais simples da vida, o seu companheiro permanecia sempre presente, eram inseparáveis.
Até que com o passar dos anos, o cultivo desta árvore deu seus frutos, um câncer nos pulmões estava a roubar-lhe as forças, a virilidade e todo o seu tempo, não fazia mais nada do que estar sentado, pois ate a mais simples atividade já lhe reduzia a quase nada, foi assim ate ouvir de um médico que o seu maior companheiro o estava a matar pouco a pouco e que já não lhe restava mais do que algumas semanas de vida.
Passadas essas semanas, o meu avô encontrava-se estirado em uma cama, coma cabeça apoiada nos braços de minha mãe e com os olhos cheios de lagrimas a despedir-se da família da maneira que lhe era possível, ao levantar a mão e acenar com os dedos um discreto e frágil adeus, sem pronunciar uma única palavra, tendo um fim lento e doloroso.
E o companheiro de sempre que lhe tirou a vida antes do tempo ainda esta entre nós e cada vez mais presente na vida de milhões de pessoas. O Cigarro é assim, muito bom, até sentirmos no corpo o grande mal que nos causa e principalmente às pessoas que mais amamos.


Carta Premiada, Ricardo Ferreira Barbosa, Lisboa.




As tragédias deste nosso Mundo

Esta carta foi publicada no domingo do dia 25 de setembro de 2005. Um ano em que dedicava grande parte do meu tempo a leitura, era sagrado, nos finais de semana minha presença nos cafés e bares da cidade, onde entre uma bebida e outra eu lia as noticias do mundo, muita se falava na dificuldade que a sociedade vinha vivendo. e em Portugal não era diferente, depois da Euro 2004 em que Portugal não foi Campeão perdendo o jogo da final para a Grécia por 1x0 as coisas começaram a cair, havia pouco trabalho, pois as estações de metro, hotéis, estádios, condomínios habitacionais e estradas já estavam construídos começamos a viver uma crise que se arrastaria por muitos anos, a mais de 10 anos estou vivendo no Brasil novamente e acredito que por lá ainda restam pessoas que reclamam das condições de vida, alias, as pessoas estão sempre reclamando.


As tragédias deste nosso mundo



Como a fome pode atingir milhões de pessoas no mundo? Quando há no planeta comida em quantidade suficiente para acabar com a fome nos países mais desprovidos.
Como o analfabetismo mantém os seus números sempre elevados? Quando é do conhecimento de todos os governantes que a educação é a solução de muitos problemas sociais.
Como a violência consegue continuar a crescer? Quando os esforços para melhorar a segurança são prioritários e a paz no mundo uma busca comum entre todas as nações.
Como o racismo e o preconceito encontram espaço no nosso meio? Sendo todos os seres humanos iguais aos olhos de Deus e da sociedade.
Como o ódio e a discórdia conseguem destruir uma família? Sendo a família o maior símbolo do amor neste mundo e os filhos o bem mais precioso que podemos ter na vida.
Milhões de toneladas de comida e medicamentos são deitados fora todos os anos por perderem a validade nos depósitos e armazéns do mundo inteiro. Tudo para que? Para manter a economia em alta? Onde fica a necessidade das pessoas?
Onde vai parar o respeito para com o próximo? E o direito à vida?
E admirável a forma como é escrita a constituição, os planos de governo e as reformas que deveriam fazer a diferença. Mas por outro lado os resultados só provam que, o que está escrito não é para todos.
A incompetência, daqueles que buscam nas palavras desculpas e explicação para tudo, é visível. Mas não devemos nos preocupar, pois, a solução para os problemas do país irão voltar a aparecer nas palavras e promessas ano após ano, governo após governo.


Carta Premiada, Ricardo Ferreira Barbosa, Lisboa.


Caro Leitor
Esta sua carta aborda várias questões que a todos deveriam preocupar. Coloca preto no branco problemas que muitas vezes nos limitamos a dizer nas entrelinhas. Diz alto e bom som coisas que muitos apenas dizem em voz baixa. Mas nestas coisas, como aliás em muitas outras, não basta apenas falar. Porque, como diz aquele famoso anúncio do “Montepio Geral”, muitas vezes falamos, falamos, falamos, mas não fazemos nada. Por isso é preciso agir. E não pensar que os governos, os políticos têm a solução para todos os males. Porque muitas vezes bastam pequenas coisas para mudar as mentalidades.
Um abraço
Jorge Araújo (Escritor e Redator)

A magia de um amor verdadeiro

Essa carta foi publicada no domingo do dia 11 de setembro de 2005, faziam exatos 4 anos que havia acontecido a grande tragédia que foi o atentado nos Estados Unidos que deu um fim a milhares de vidas, a derrubada das Torres Gêmeas.  Meu casamento não vinha bem acredito que pouco tempo depois tenha chegado ao fim, creio que meses, quando escrevi esta carta tentávamos ainda acertar as coisas, e de certa forma foi um agradecimento de minha parte, hoje, casado novamente e com uma família linda, paro e penso nas voltas que a vida dá e que o fim de algo, pode ser o começo de algo ainda maior, recomeçar não é ruim desde que saibamos aceitar e perder, perdi muitas coisas na vida que contribuíram para o meu desenvolvimento, ganhei outras na vida que são lindos presentes, entendo que são recompensas, pela paciência e perseverança, espero que apreciam a leitura.


A magia de um amor verdadeiro



A semente do amor plantada em nossos corações explodiu, e as suas raízes firmaram-se dando origem aos ramos que cresceram  em forma de sorrisos e olhares, era quase impossível escondermos o sentimento que estava estampado nos nossos rostos. Estávamos apaixonados. E foi numa linda noite de novembro que nos beijamos pela primeira vez, já não posso contar nos dedos os anos que vieram depois deste dia, mas recordo-me como se fosse ontem. Depois de leva-la a casa ficamos hora a falar, dos amigos, da escola e dos sonhos que tínhamos em comum. A noite caia lentamente e o tempo seguia os mesmos passos. De repente o meu coração ganha um ritmo acelerado, sem pensar caminho na direção dela e ao abraça-la beijo-lhe a boca suavemente, com um certo receio, que desapareceu logo que senti que a sua vontade era tão grande quanto a minha. Abraçados nos entregamos um ao outro e não foi necessária nenhuma palavra porque o momento que vivemos já era esperado com grande ansiedade por nós os dois. Hoje somos casados e como fruto desta união nasceu a pequena Raquel, uma linda menina cheia de saúde e alegria, e escrevo esta carta em agradecimento à minha esposa, pela paciência e pelo esforço que tem feito para que nossa união permaneça da melhor maneira possível, a cada dia que passa reconheço ainda mais a grande importância que a minha esposa tem na minha vida, cuidando de mim e de toda a nossa família, é com muito carinho que ofereço essas palavras a ela.

Carta Premiada Ricardo Ferreira Barbosa, Lisboa.

Caro Leitor
O Ricardo é, sem dúvida, um homem de sorte. Nem toda gente tem histórias como a sua para contar. Histórias de amor que aquecem a alma e o coração, que nos embalam o dia-a-dia que nem sempre é azul. No fundo, nem todos vivemos histórias com o final feliz. No mundo como o de hoje em que grande parte das relações amorosas se esfuma num abrir e fechar de olhos, o facto de sua história de amor durar à tanto tempo é quase um ‘Case Study’. Na sua carta avança com parte da receita da felicidade – uma mão cheia de afectos é a via verde para uma grande felicidade. Continue assim. E continue a manifestar à sua esposa o grande amor que sente por ela. E como gosta de dizer um artista são tomense meu amigo, façam o favor de ser felizes.

Um abraço
Jorge Araújo (Escritor e Redator)

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Domingo Magazine

A Domingo Magazine a revista semanal que é complemento do jornal Correio da Manhã que tem uma edição diária. Nesta carta fiz uma homenagem a revista e os editores acabaram por publicar na edição de número 9549 do Correio da Manhã de domingo dia 17 de julho de 2005. Foi num domingo como outro qualquer, estava eu no café Oasis quando comprei os jornais e algumas revistas, pedi um café com cheirinho de Bagaço como fazia nos finais de semana, e fui folhear as revistas deixando a Domingo Magazine para o final, quando passei as primeiras paginas, dei de cara com nome assinando mais uma postagem e como sempre foi uma alegria enorme, mais esta publicação, que sempre me motivou a escrever mais e mais...


Domingo Magazine



Nenhum dia é tão simples a ponto de não nos oferecer um momento especial, pois são nas pequenas coisas, muitas vezes ignoradas pelo cuidadoso olhar da sociedade, que encontramos a grande diferença. Pessoas simples e pessoas com sucesso na vida são postas lado a lado quando confrontadas com a realidade que se vive diariamente, e nesse meio onde a verdade tem vários rostos distintos, encontramos uma revista séria e grande que partilha com milhares de pessoas a vida como ela é: Triste e alegre, fácil e ao mesmo tempo difícil. Uma revista que procura fazer a diferença na vida de cada um de nós individualmente, para que no tempo certo possamos colher o que a sociedade possa vir a dar aos seus filhos. Uma revista que reflete em todos nós a vida daqueles que, apesar das dificuldades, lutam por uma vida melhor, daqueles que, apesar do azar do destino, lutam para reencontrar a alegria que perderam, e daqueles que apesar do sucesso, voltam os olhos para os menos favorecidos. Quando escrevemos transmitimos em palavras os nossos sentimentos mais profundos e toda a satisfação de estarmos a contribuir para a construção de um mundo melhor. E nas palavras dos jornalistas, do editor e de todo o grupo que completa à excelente equipe da revista Domingo Magazine, podemos encontrar um exemplo único da força de vontade e determinação que mostra á nossa sociedade que por mais difícil que seja a vida, vale a pena viver cada minuto da melhor maneira possível. Um abraço e os meus parabéns a toda a equipe da Domingo Magazine.

Ricardo Ferreira Barbosa (Almada)

Correio da Manhã

Esta Carta foi publicada e premiada num final de semana de muita alegria na edição de número 9409 do Correio da Manhã. Domingo dia 27 de Fevereiro de 2005. Eu passava grande parte do tempo na Biblioteca Municipal de Almada, qualquer dia vou escrever com detalhes como eram os dias na Biblioteca, enorme, onde havia salas de vídeo que emprestavam DVD's e CD's, cada leitor carregava consigo um cartão de identificação que era apresentado em cada ação realizada, fosse para assistir um filme sentado em uma enorme poltrona preta e com fones no ouvido, ou para pegar livros emprestado para ler em casa, tudo muito organizado alem dos mais os Cafés entorno e dentro do espaço da Biblioteca davam um toque especial ao lugar e era ponto de reunião de muitos jovens.


Correio da Manhã


As manhãs despertam em nós uma sensação de começar de novo e a esperança de um dia melhor surge no momento em que os raios de sol cortam o céu sobre prédios e montanhas anunciando o início de um belo dia. Nas praças, nos cafés, nos transportes e mesmo no trabalho vejo as pessoas numa agitação saudável, comum no nosso dia-a-dia. E ao nosso lado a vida caminha à sua maneira, na ira de um velho ao ler em pormenor a derrota do seu clube, o brilho nos olhos de uma jovem ao ver confirmado o espetáculo do musico que tanto ama, a expressão seria de quem minuciosamente  analisa o mercado, o jovem que marca as ofertas de trabalho à procura de emprego, a senhora que passa grande parte do tempo nas palavras cruzadas, o espanto no rosto das pessoas frente as grandes tragédias que marcam com dor toda a humanidade, a esperança nas grandes descobertas que podem levar a encontrar novas curas, o crime nas ruas, a violência nos lares é a face do medo de uma sociedade que luta para que a juventude se mantenha forte e com grandes propósitos para assegurar o futuro da nação. As informações diárias são fundamentais em nossas vidas, dando nos a conhecer os fatos para entender o mundo e o país em que vivemos e são nessas poucas palavras que tento encontrar maneiras que venham a expressar a minha enorme admiração pelo incentivo, pelo carinho, pela dedicação e pelo maravilhoso trabalho que chega às mãos dos leitores, o meu muito obrigado ao “ Correio da Manhã”.


Ricardo Ferreira Barbosa (Almada)


Caro Ricardo,
Continue atento ao país e ao mundo. Continue atento ao “Correio da Manhã”. Obrigado pela preferência. Um abraço.
Jorge Araújo (Escritor e Redator)


terça-feira, 22 de novembro de 2016

O Tempo na volta pra casa

Esta carta foi escrito na volta do trabalho,  o transito era intenso e muito lento na entrada da ponte 25 de Abril que fazia  a ligação entre Lisboa e Almada, com um caderno de rascunho e uma caneta na mão fui riscando essas palavras e no final de semana foram parar na quarta pagina da revista Domingo Magazine, a carta premiada saiu na edição de nº 9570 do Correio da Manhã, no domingo dia 07 de Agosto de 2005. As vezes paro e penso no quanto podemos aproveitar nosso tempo, na ida e na volta do trabalho, nos domingos de manhã quando levamos as crianças no parque para brincar, 15 ou 20 minutos antes de dormir enquanto esperamos o sono chegar, ler e escrever são atividades excelentes nestas situações.

O tempo na volta pra casa



Sentado num autocarro, cansado depois de mais um dia de trabalho, descanso o meu corpo no lento regresso a casa, enquanto espreito a vida lá fora por detrás de um vidro riscado. No pensamento estão as recordações de uma infância alegre e de uma juventude rica de grandes momentos. Mas aos poucos vou sendo resgatado para o presente e sem forças para manter viva a esperança de reencontrar o meu velho mundo me confronto novamente com a realidade a minha volta. Do lado de fora o transito é intenso, cada ano que passa a mais pessoas e menos empregos, mais violência e menos segurança nas ruas, mais professores e menos interesse em manter os jovens na escola, a educação vai se transformando em luxo, pois a necessidade tem vencido a vontade de estudar, o pequeno agricultor perde o trabalho e também a companhia dos filhos que deixam a pacata vida do interior em busca do sonho de uma vida melhor na grande capital. Um país não é apenas um pedaço de terra, um país e a alma e o coração de cada pessoa que nele vive, que nele trabalha e que por ele luta. Uma pessoa pode parecer não ter nenhuma importância para a sociedade por ter um trabalho simples e uma educação vulgar, mas quando paro e penso vejo que são essas pessoas, o sangue que corre nas veias deste país, o mantendo vivo mesmo nos momentos mais difíceis...


Ricardo Ferreira Barbosa (Lisboa)



Caro Ricardo,
Pela sua carta, pela sua verdade, o prêmio desta semana é seu.
Fernanda Cachão (Redatora)

O Pesadelo


"Esta Carta, foi escrita em um café nas proximidades da casa, em Almada, foi Premiada e publicada na revista Domingo Magazine que faz parte da edição  9591 do Correio da Manhã. Domingo, 28 de Agosto de 2005. Um amigo que trabalhou comigo na faculdade Piaget em Almada a leu antes da publicação e disse com um sorriso no rosto que, a carta tinha grandes chances de ser publicada, e assim foi. Quando no momento oportuno o encontrei ele me aconselhou a ler sempre e jamais parar de escrever, e desde então tenho colhido os frutos de todo o meu trabalho e dedicação e hoje estou vivendo em Uberlândia-MG."


Pesadelo


 O Cansaço levou-me mais cedo para a cama, depois de uma semana difícil e natural o sono roubar-me a lucidez e entre uma imagem e outra, uma recordação ou talvez apenas mergulhado nas minhas mais intimas fantasias, fui-me entregando aos poucos caindo num sono profundo. Novamente as imagens regressaram só que agora estou no meio de um acidente, e nele vejo pessoas conhecidas morrendo, tento pedir ajuda mas quem me atende diz que perdi o emprego; corro em desespero mas ninguém me vê, porque todos fogem de algo também e só vejo desgraça à minha volta, crianças sofrendo abusos, jovens sendo violadas, mulheres sendo agredidas pelos próprios maridos que um dia lhes juraram amor eterno. Continuo a correr mas a tristeza permanece, o fogo esta em todos os lados, destruindo o verde, queimando aldeias e matando pessoas, jovens na prostituição, na droga, roubando e até matando. Levando o terror para dentro dos próprios lares e a seca castigando plantações e deixando muitos sem água. Quem tem o poder não faz nada, nem sequer os vejo e muito menos sei quem são; já a confiança desapareceu na altura em que a verdade deixou de ser verdadeira. Continuo correndo e me deparo com a fome, o abandono e a violência que quando menos esperamos faz mais uma vitima. De repente acordo, é madrugada e o calor é intenso, o meu corpo esta coberto de suor e o meu coração bate acelerado, olho para o relógio e vejo que ainda são 03:00 horas. E agradeço a Deus por ter sido só um pesadelo e nada mais.

Ricardo Ferreira Barbosa (Lisboa)


 Caro Ricardo
A esperança é a ultima coisa a morrer. Ainda bem que tudo não passou de um pesadelo.
Jorge Araújo (Escritor e Editor)

sábado, 19 de novembro de 2016

As velas ardem até o fim - Sándor Márai

Durante anos o silêncio foi o ator principal no cenário da vida dos personagens desta história, cercados de amor, ódio e incertezas viveram por anos angustiados à espera de um último encontro, que traria a tona lembranças de um tempo remoto, e a verdade. Se eu pudesse resumir esse livro em apenas uma palavra seria a amizade, pois entre todos os sentimentos que experimentamos é o que melhor compreendemos. Dois amigos que se conheceram na infância e ao longo de 20 anos construíram um relacionamento de cumplicidade envolto em segredos e sob um amor fraternal, dividindo descobertas, sonhos e o amor de uma mulher. Dois homens distintos que se completam, separam-se, por um longo período de 40 anos, Henrik ficou no castelo onde viveu por toda a vida enquanto Konrád regressou dos trópicos depois de uma vida inteira, de certo nada do que pudessem dizer um ao outro mudaria algo em suas vidas depois de tanto tempo, e já no fim de suas vidas a verdade poderia trazer paz e por um fim nas perguntas que nunca obtiveram respostas, porque suas próprias vidas jamais mudariam e durante o tempo que lhes restasse teriam que conviver um com o outro e nos caminhos que escolheram.

O livro nos traz uma reflexão sincera sobre os valores de uma amizade e sobre as escolhas que fazemos ao longo da vida, esse historia começa no século XIV e se estende ao século XX, mas todos os fatos e as formas como acontecem, são idênticas aos dias de hoje. Porem a diferença esta no olhar da sociedade, e sempre, esse olhares serão levados em conta, porque vivemos em sociedade e porque que sejamos indiferentes a opinião das outras pessoas, estamos sujeitos aos efeitos que nossas atitudes provocam no nosso meio. Talvez por essa razão a fug tenha sido a escolha mais fácil de Konrád e do mesmo modo Henrik tenha encontrado na solidão e no silêncio um abrigo e ao mesmo tempo uma maneira segura de conter a sua ira. Dois amigos que dividiram o amor de uma jovem e linda mulher, cujo nome ficou em suas mentes, sendo lembrado no silêncio, entre uma música e uma taça de vinho, ecoando no tempo e na saudade, na eterna saudade, Krisztina, quantas vezes roubaste noites de sono, quantas lagrimas não se formaram por razão da sua ausência, quais foram suas palavras e seus últimos pensamentos. Esse livro me envolveu desta forma porque em algum momento da minha vida eu também me perdi, em algum momento eu optei pelo caminho mais fácil e perdi a oportunidade de perdoar e ser perdoado. E, as palavras do general, em um trechos de Sándor Márai, nos falam da vida desta forma: “ Uma pessoa compreende o mundo pouco a pouco e depois morre. Compreende os fenômenos e a razão das ações humanas e depois morre”.
A versão do livro que lê foi uma tradução direto do Húngaro por Maria Mgdolna Demeter, a primeira edição é de outubro de 2001 e tive o privilégio de ganhar um exemplar da 16ª edição no ano de 2008, da editora Dom Quixote de Portugal, o que eu achei interessante e que a tradução do título do livro em Portugal, ficou bem mais próximo do original, “ A Gyertyák csonkig égnek” que no português de Portugal ficou “ As velas ardem até o fim. No Brasil o livro foi lançado pela Companhia das Letras no ano de 1999 com a tradução de Rosa Freire D’Aguiar intitulado “As Brasa”, como o idioma do autor é muito difícil, o mesmo permitiu que a tradução fosse feita do italiano para o Português, na Espanha o livro foi recebeu o nome de “El último encuentro” e nos Estados Unidos, “Embers”. Sándor Márai nasceu na cidade de Kassa uma pequena cidade da Hungria seu nome de batismo é Sándor Károly Henrik Grosschmid de Mára, filho de uma advogado e uma professora se tornou um dos maiores escritores da língua húngara, em 1928 foi viver em Krisztinaváros um pequeno bairro de Budapeste, e em 1948 abandonou definitivamente o seu país, passando por Suíça e Itália até que em 1952 se instalou  em Nova Iorque nos Estados unidos, onde posteriormente recebeu a sua nacionalidade. Sándor Márai se casou com Lola Matzner em 1923 e viveram casados por 62 anos e 3 meses, ate a morte da esposa, tiveram um filho biológico Kristof Márai que viver pouco mais de 1 mês e tiveram um outro filho adotivo János Márai que morreu aos 46 anos um ano após a morte da Mãe. Alguns anos depois, sozinho, viúvo, com câncer em estado avançado, quase cego e esquecido, Marai se suicidou em 21 de fevereiro de 1989 em sua casa em San Diego na Califórnia.
Um livro são fragmentos de vidas, mesmo que história nada tenha a ver com a vida do autor, outras vidas se identificam com os personagens criados pelo escritor, gostaria de citar alguns detalhes que me chamaram muita atenção nesta história, entre eles o nome do general Henrik que é o terceiro nome do autor, outro detalhe foi o nome da mulher que foi o centro da atenção de Henirk e Konrád, Krisztina é o início do nome do pequeno bairro que o autor viveu em Budapeste, Krisztinaváros. Uma outra curiosidade que pesquisei foi o significado do nome de Konrád, que é um nome alemão e significa “ conselheiro honesto. É claro que tudo pode ser apenas coincidência, mas esses fatos não deixam de estarem ligados por algum motivo ao autor. Essa história nos transporta a um universo magnifico, onde percebemos que as palavras por si só não revelam a verdade a nossa respeito, através delas ocultamos o que pensamos e mentimos sobre o que queremos ou fazemos.
“ Evitar se envolver ou experimentar os prazeres da vida para não correr os riscos que os mesmos nos reservam e não se entregar a vida é o mesmo que se privar do melhor que a condição humana nos permite, evoluirmos, crescermos, aprendermos e por que não mais.”
“ O que é que se pode perguntar das pessoas com  palavras? O que vale a resposta que uma pessoa dá com palavras e não com a realidade da sua vida? Vale pouco. São poucas as pessoas cujas palavras correspondem por completo a realidade das suas vidas. Talvez esse seja o fenômeno mais raro da vida.
Essas duas citações acima são trechos do livro de Sándor Márai que compartilho com vocês, sobre a história não quero acrescentar muito, mas sobre a impressão que tive do livro e o que ele causou em minha vida tenho a dizer que foi uma experiência impar que mostrou o quanto não estou preparado para as enfrentar as consequências de minhas escolhas, porque penso do dia inteiro em comemorar as minhas vitórias e no êxito de minhas ações, espero sempre um final feliz e carrego uma grande convicções acerca das coisas a meu redor, somos conhecedores da nossa própria intimidade e as vezes nem nos mesmos conhecemos, quanto às pessoas que nos cercam, devemos saber que seus corações são e sempre serão um universo desconhecido e por mais que a convivência nos faça acreditar somos conhecedores da verdade alheia, jamais o seremos, cada ser humano carrega dentro de si segredos e muitos destes segredos são enterrados no fim da vida junto com os corpos que os aprisionaram durante todo o longo tempo de existência. Fica a dica deste grande livro e desde grande homem que o escreveu e que por razões que desconhecemos se desfez da vida. 

Ricardo Barbosa
Pitaco Literário