Durante anos o silêncio foi
o ator principal no cenário da vida dos personagens desta história, cercados de
amor, ódio e incertezas viveram por anos angustiados à espera de um último
encontro, que traria a tona lembranças de um tempo remoto, e a verdade. Se eu
pudesse resumir esse livro em apenas uma palavra seria a amizade, pois entre
todos os sentimentos que experimentamos é o que melhor compreendemos. Dois
amigos que se conheceram na infância e ao longo de 20 anos construíram um
relacionamento de cumplicidade envolto em segredos e sob um amor fraternal,
dividindo descobertas, sonhos e o amor de uma mulher. Dois homens distintos que
se completam, separam-se, por um longo período de 40 anos, Henrik ficou no
castelo onde viveu por toda a vida enquanto Konrád regressou dos trópicos
depois de uma vida inteira, de certo nada do que pudessem dizer um ao outro
mudaria algo em suas vidas depois de tanto tempo, e já no fim de suas vidas a
verdade poderia trazer paz e por um fim nas perguntas que nunca obtiveram respostas,
porque suas próprias vidas jamais mudariam e durante o tempo que lhes restasse
teriam que conviver um com o outro e nos caminhos que escolheram.
O livro nos traz uma
reflexão sincera sobre os valores de uma amizade e sobre as escolhas que
fazemos ao longo da vida, esse historia começa no século XIV e se estende ao
século XX, mas todos os fatos e as formas como acontecem, são idênticas aos
dias de hoje. Porem a diferença esta no olhar da sociedade, e sempre, esse
olhares serão levados em conta, porque vivemos em sociedade e porque que
sejamos indiferentes a opinião das outras pessoas, estamos sujeitos aos efeitos
que nossas atitudes provocam no nosso meio. Talvez por essa razão a fug tenha
sido a escolha mais fácil de Konrád e do mesmo modo Henrik tenha encontrado na
solidão e no silêncio um abrigo e ao mesmo tempo uma maneira segura de conter a
sua ira. Dois amigos que dividiram o amor de uma jovem e linda mulher, cujo
nome ficou em suas mentes, sendo lembrado no silêncio, entre uma música e uma
taça de vinho, ecoando no tempo e na saudade, na eterna saudade, Krisztina,
quantas vezes roubaste noites de sono, quantas lagrimas não se formaram por
razão da sua ausência, quais foram suas palavras e seus últimos pensamentos.
Esse livro me envolveu desta forma porque em algum momento da minha vida eu
também me perdi, em algum momento eu optei pelo caminho mais fácil e perdi a
oportunidade de perdoar e ser perdoado. E, as palavras do general, em um
trechos de Sándor Márai, nos falam da vida desta forma: “ Uma pessoa compreende
o mundo pouco a pouco e depois morre. Compreende os fenômenos e a razão das
ações humanas e depois morre”.
A versão do livro que lê foi
uma tradução direto do Húngaro por Maria Mgdolna Demeter, a primeira edição é
de outubro de 2001 e tive o privilégio de ganhar um exemplar da 16ª edição no
ano de 2008, da editora Dom Quixote de Portugal, o que eu achei interessante e
que a tradução do título do livro em Portugal, ficou bem mais próximo do
original, “ A Gyertyák csonkig égnek” que no português de Portugal ficou “ As
velas ardem até o fim. No Brasil o livro foi lançado pela Companhia das Letras
no ano de 1999 com a tradução de Rosa Freire D’Aguiar intitulado “As Brasa”, como
o idioma do autor é muito difícil, o mesmo permitiu que a tradução fosse feita
do italiano para o Português, na Espanha o livro foi recebeu o nome de “El
último encuentro” e nos Estados Unidos, “Embers”. Sándor Márai nasceu na cidade
de Kassa uma pequena cidade da Hungria seu nome de batismo é Sándor Károly
Henrik Grosschmid de Mára, filho de uma advogado e uma professora se tornou um
dos maiores escritores da língua húngara, em 1928 foi viver em Krisztinaváros
um pequeno bairro de Budapeste, e em 1948 abandonou definitivamente o seu país,
passando por Suíça e Itália até que em 1952 se instalou em Nova Iorque nos Estados unidos, onde
posteriormente recebeu a sua nacionalidade. Sándor Márai se casou com Lola
Matzner em 1923 e viveram casados por 62 anos e 3 meses, ate a morte da esposa,
tiveram um filho biológico Kristof Márai que viver pouco mais de 1 mês e
tiveram um outro filho adotivo János Márai que morreu aos 46 anos um ano após a
morte da Mãe. Alguns anos depois, sozinho, viúvo, com câncer em estado
avançado, quase cego e esquecido, Marai se suicidou em 21 de fevereiro de 1989
em sua casa em San Diego na Califórnia.
Um livro são fragmentos de vidas,
mesmo que história nada tenha a ver com a vida do autor, outras vidas se
identificam com os personagens criados pelo escritor, gostaria de citar alguns
detalhes que me chamaram muita atenção nesta história, entre eles o nome do
general Henrik que é o terceiro nome do autor, outro detalhe foi o nome da
mulher que foi o centro da atenção de Henirk e Konrád, Krisztina é o início do
nome do pequeno bairro que o autor viveu em Budapeste, Krisztinaváros. Uma
outra curiosidade que pesquisei foi o significado do nome de Konrád, que é um
nome alemão e significa “ conselheiro honesto. É claro que tudo pode ser apenas
coincidência, mas esses fatos não deixam de estarem ligados por algum motivo ao
autor. Essa história nos transporta a um universo magnifico, onde percebemos
que as palavras por si só não revelam a verdade a nossa respeito, através delas
ocultamos o que pensamos e mentimos sobre o que queremos ou fazemos.
“ Evitar se envolver ou experimentar
os prazeres da vida para não correr os riscos que os mesmos nos reservam e não
se entregar a vida é o mesmo que se privar do melhor que a condição humana nos
permite, evoluirmos, crescermos, aprendermos e por que não mais.”
“ O que é que se pode
perguntar das pessoas com palavras? O
que vale a resposta que uma pessoa dá com palavras e não com a realidade da sua
vida? Vale pouco. São poucas as pessoas cujas palavras correspondem por completo
a realidade das suas vidas. Talvez esse seja o fenômeno mais raro da vida.
Essas duas citações acima
são trechos do livro de Sándor Márai que compartilho com vocês, sobre a
história não quero acrescentar muito, mas sobre a impressão que tive do livro e
o que ele causou em minha vida tenho a dizer que foi uma experiência impar que
mostrou o quanto não estou preparado para as enfrentar as consequências de
minhas escolhas, porque penso do dia inteiro em comemorar as minhas vitórias e
no êxito de minhas ações, espero sempre um final feliz e carrego uma grande
convicções acerca das coisas a meu redor, somos conhecedores da nossa própria intimidade
e as vezes nem nos mesmos conhecemos, quanto às pessoas que nos cercam, devemos
saber que seus corações são e sempre serão um universo desconhecido e por mais
que a convivência nos faça acreditar somos conhecedores da verdade alheia,
jamais o seremos, cada ser humano carrega dentro de si segredos e muitos destes
segredos são enterrados no fim da vida junto com os corpos que os aprisionaram durante
todo o longo tempo de existência. Fica a dica deste grande livro e desde grande
homem que o escreveu e que por razões que desconhecemos se desfez da vida.
Ricardo Barbosa
Pitaco Literário